Agora, por exemplo, a impressão que tenho é que meu eu saiu por aí, a ganhar o mundo, sem deixar endereço. Foi viver como vagabundo, sem residência fixa, sem deixar rastros, foi viver o que ele considera a verdadeira liberdade. Para não ser encontrado, escondeu-se numa neblina, esvaiu-se numa chuva danada. E jurou nunca mais voltar. Disse não querer mais habitar esse corpo limitado, que necessita codificar tudo o que vê.
Aliás, meu eu não quer mais ver nada. Ele quer Ser tudo. Ele quer se incorporar a tudo. Chega de ser expectador. Ele quer ser autor, ator, criador e criatura de si mesmo, ele quer entrar nas árvores e matos, ele quer ser arvore, ele quer ser rio, ele quer ir buscar o mar. Me disse que já que o corpo não ama, ele vai até o mar, ele quer amar. E quer amar sendo o próprio amor, ele não quer ser apenas um ator.
E me disse, partindo: Fica tu aí, oca, louca, rouca, pouca, trouxa. Aproveita a solidão de que tanto gostas, porque vou embora. Não vai adiantar mais vestir , perfumar , calçar , alimentar e embebedar essa casca, porque tudo se perderá. Ame-se, cuide-se, enxergue-se, viva –se, transmute-se em tudo que gostas. Quem sabe eu volto e seremos novamente amigos, amantes, amados, amores, inseparáveis senhores, incomensuráveis sonhadores...
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